MOMENTOS DE POESIA
VIMOS CHEGAR AS ANDORINHAS
Vimos chegar as andorinhas
conjugarem-se as estrelas
impacientarem-se os ventos
Agora
esperemos o verão
do teu nascimento tranquilos, preguiçosos
Tão inseparáveis as nossas fomes
Tão emaranhadas as nossas veias
Tão indestrutíveis os nossos sonhos
Espera-te um nome
breve como um beijo
e o reino ilimitado
dos meus braços
Virás
como a luz maior
no solstício de junho.
Rosa Lobato de Faria
QUIMERA
Eu quis um violino no telhado
e uma arara exótica no banho.
Eu quis uma toalha de brocado
e um pavão real do meu tamanho.
Eu quis todos os cheiros do pecado
e toda a santidade que não tenho.
Eu quis uma pintura aos pés da cama
infinita de azul e perspectiva.
Eu quis ouvir ouvir a história de Mira Burana
na hora da orgia prometida.
Eu quis uma opulência de sultana
e a miséria amarga da mendiga.
Eu quis um vinho feito de medronho
de veneno, de beijos, de suspiros.
Eu quis a morte de viver dum sonho
eu quis a sorte de morrer dum tiro.
Eu quis chorar por ti durante o sono
eu quis ao acordar fugir contigo.
Mas tudo o que é excessivo é muito pouco.
Por isso fiquei só, com o meu corpo.
Rosa Lobato de Faria
" PALAVRAS "
Com palavras sei dizer
o que nem palavras tem
com palavras digo Lua digo leite e digo mãe.
Com palavras digo mais
muito mais alto melhor
digo adeus a quem se vai
digo amor ao meu amor.
Com palavras ponho um nome
neste estranho gosto a mar
que já trago há tanto tempo
no meu peito a transbordar.
Com palavras sussurradas
ou pintadas num papel
faço festas acarinho
quem não tem nem pão nem mel.
Com palavras a galope
no rodar de uma canção
de repente sou cavalo
flor vermelha rio vulcão.
Com palavras tenho asas
que me levam a voar
com palavras vou tão longe
quanto o sonho me levar.
José Fanha
" A CANÇÃO DA ÁGUA CORRENDO "
Água fresca das levadas
Desce o monte às sapatadas
Em sonoras gargalhadas
A brincar Vem correndo e de caminho
´ Põe a roda do moinho
A rodar devagarinho Sem parar.
Ao chegar à terra lisa
Já não corre só desliza
Deixa-se ir como uma brisa Devagar
. Passa doce e vai contente
E em correr tão lentamente
Faz os barcos faz a gente Navegar.
Água boa preguiçosa
Minha amiga rumorosa
Leva mágoas deixa rosas a brilhar.
José Fanha IV